8.7.06

medo do silêncio (silence of the lambs)

Há um certo desespero (hoje quase casual e até mesmo in, fashionable) no convívio social/interpessoal e, ao mesmo tempo, um medo da solidão que beira o irracional.

Muitos dizem que sempre foi assim, que isso é uma característica humana e que, hoje, estamos apenas mais conscientes de sua existiencia. Que as recentes mudanças sócio-culturais não modificaram nada, apenas realçaram essa realidade. Eu discordo. Há pouco mais de dois séculos, as cidades (que fique claro desde já, estamos falando do mundo "civilizado", europeu) – reiterando, as cidades não tinham iluminação pública regularizada e mesmo a iluminação doméstica era problemática. Pouco menos de cem anos depois, a lâmpada elétrica era inventada e, nos trinta anos que sucederam sua invenção, foi posta em uso. (Isso em alguns países. No Brasil, o projeto de iluminação pública até hoje é deficiente, mesmo nas grandes cidades, e nos rincões mais distantes, muitos nem conhecem o que vem a ser essa tal de eletricidade). Durante o século XX, a tecnologia proporcionou a cada vez mais pessoas a posiibilidade de se isolar, tendo contato humano cada vez menos e a intervalos cada vez mais espaçados. O surto galopante de maníaco-depressão, falta de estímulo, de auto-estima ou mesmo de "simples" tédio que aconteceu durante o final da década de '70 e que vem se mantendo relativamente estável, com tendência de leve crescimento nas décadas seguintes não é mero acaso. Nunca antes o ser humano teve condições de se "eremitizar", e agora ele pode fazê-lo no conforto do lar.

Filmes como "Clube da Luta" ("Fight Club", EUA, 1999), "It's Only Talk" ("Yawakarai Seikatsu", Japão, 2005) e "Vibrator" (idem, Japão, 2003) tratam desse tema – os dois últimos com personagens principais femininos. Em "Fight Club", a necessidade (sem julgamentos de mérito ou valor) de se mudar a maneira e o mundo em que vivemos; em "It's Only Talk", o quanto o isolamento (a princípio causado por uma "condição médica" – nesse caso, um eufemismo hipócrita, na minha opinião) – repito, o quanto o isolamento é potencializado pela própria pessoa, que busca ajuda sem assumir sua "condição"; "Vibrator" parte da mesma premissa, com um "motivo" (nesse caso, frase) repetido diversas vezes no começo do filme: "I want to touch you". Esse motivo é desenvolvido a seguir: "I want to touch you, but I'm afraid of it...I know it sounds silly...but I'm afraid of what you'll think of me..." No entanto, esse último consegue algo que "Yawakarai Seikatsu" não consegue, ou melhor, não pretende conseguir, qual seja, uma conclusão. Nas palavras da personagem principal do filme: "He was good enough to eat, but in the end he was consuming me." A paz advinda do auto-confrontamento e da experiência. Fi-lo porque qui-lo. As vozes na minha cabeça silenciaram e eu estou em paz.