20.1.12

o que é bom pra indústria é bom pra você? e pro artista?

was megaupload bad for the creative industries?

o artigo, do jornal Guardian, apresenta dois argumentos, pró e contra pirataria. no entanto (curiosamente?), os argumentos contra pirataria (defendidos por Frances Moore, chefe do IFPI) não justificam a postura isolacionista da indústria cultural. 



a defesa mais utilizada é a de que, por causa da pirataria, artistas deixam de criar (por falta de dinheiro), pessoas são demitidas e empresas deixam de existir ("The music business was the first creative industry to be hit by digital piracy. Thousands of artists have suffered, hundreds of thousands of employees have lost their jobs and many labels have disappeared") – e tal defesa é, na minha opinião, risível. 


falando como músico, não sei de nenhum artista/banda que tenha deixado de produzir por conta disso. o único que se aproximou de tal postura foi Prince e, ao que me consta, o fez para ter controle total de sua produção, retirando suas obras de catálogo inclusive da própria indústria. 


pessoas são demitidas. mas, numa economia em crise (qualquer que seja), a cultura é sempre a primeira a sofrer. governos deixam de investir na área para priorizar os essenciais (saúde, educação e produção, não necessariamente nessa ordem, nem de fato) e, consequentemente, indústrias deixam de investir em novas criações. consequentemente, perdem-se empregos. mas, a indústria cultural não reclama disso.

selos/empresas deixam de existir. é verdade. no entanto, quando uma empresa grande compra um pequeno selo e descontinua o catálogo do tal selo, ninguém da indústria reclama – e isso acontece com mais frequência do que se imagina.



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verdade seja dita, Frances acerta em uma coisa. ela diz: "First, you cannot fund creativity by taking away the rights of creators to be paid. Second, just look at who is benefiting from "free". We cannot be fooled by opportunists hiding behind seemingly lofty principles to feather their own nests".


ou seja, não há criatividade quando os direitos dos criadores (mas isso também se aplica à indústria, quando esta não paga devidamente seus contratados e explora artistas iniciantes). mas, o discurso sobre liberdade de acesso não pode servir para enriquecimento. a indústria não pode continuar lucrando os absurdos que têm lucrado, mas um site (ou qualquer outro recurso que seja) que se propõe a "liberar" tal produção não pode faturar, pelas mesmas razões.


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o cerne da questão é: o artista não recebe o que deveria. em qualquer língua, em qualquer época (do século xx em diante), se encontra argumentos de que "arte é um negócio para se perder dinheiro", supostamente porque nem sempre gera "produtos". será? 

18.1.12

a SOPA, a PIPA, e outros objetos curiosos

quando a china fez, reclamou-se.

quando o irã anunciou que iria fazer, reclamou-se.

agora, os eua querem fazer. e, felizmente, está-se reclamando.

a internet é um espaço livre, não se pode – nem se deve – tentar limita-lo. mais iimportante ainda, não se deve fazê-lo disfarçado de proteção ao direito de propriedade intelectual.

por que?

porque direitos autorais não são a principal fonte de renda de nenhum criador. mas, curiosamente, são a principal fonte de renda das indústrias culturais e científicas. precisamos aceitar a função da criação na sociedade contemporânea e discutir, sim, maneiras de preservar os direitos dos criadores (que fique claro que tenho objeções tanto ao modelo de copyright quanto ao de copyleft). os criadores têm direito a ficarem incomodados com o excesso de pirataria que sofrem, principalmente por meio da internet, mas não têm direito de limitarem o meio por conta dos usuários. todavia, os usuários ainda têm que fazer sua parte em reconhecimento ao trabalho artístico que lhes agrada.

essa legislação que se propõe nos eua – SOPA na câmara dos deputados, PIPA no senado – afeta toda a comunidade mundial. se o bater de asas de uma borboleta no pacífico pode causar um furacão do outro lado do mundo, o que dizer do bater de asas de um dragão. tais legislações nos afetam a todos. por isso, temos que prestar atenção não só ao que está acontecendo lá, mas também às suas versões já existentes em outros países e regimes, bem como para que projetos semelhantes não venham a ser propostos aqui.




muitos sites, blogs e afins entraram em blackout mode, em protesto aos projetos de lei. outros, apresentam textos sobre o tema. seja qual for a sua forma preferida, não deixe de se pronunciar.