24.12.07

Nósa lingua portugeza?

Mi pergunto cual a heal nesesidadi dji incorporarmus as letras K, W i Y au nóssu alfabetu. Ecétu enh palavras derivadas dji linguas estranjeiras i inh nómis próprius, éssas letras nãu sãu utchilizadas na nóssa lingua nem hepresentam sons fonétchicus nóvus, já ci K cohespondji au nóssu C; W, au V; i Y, ao I. Aliáis, meu cestionamentu vai aleinh dissu: cual a heal hazãu dji ainda falarmus portugeis nu Brazil, au invés dji brazileiru?

Sim, á us fatoris políthchicus. Nu ci toca à pulítchica esterna, principalmeintchi acela ci si referi a organizasõis internasionais, é supostameintchi interesantchi ci u Brazil integri o grupu dus paízis luzófonus, dando asinh djistaci i relatchiva inhportânsia à ésa lingua na ONU, por ezemplu. Mais uma das hazõis alegadas para a heforma ortográfica propósta nesi anu seria u hidjículu da nesesidadji, oji, dji documentus internasionais serem hedjijidus inh dois padrõis djiferentchis dji portugeis: o BR (Brazil) i o PT (Portugal), inh funsãu da djiscrepânsia entri as duas linguas. Óra, isu mi paresi mais um argumentu para uma separasãu definitchiva das linguas du ci para ci si fasãu auterasõinhs para unificar ambus us padrõinhs.

Isu mi leva a considerar a maneira comu screvemus nósa lingua. É heclamasãu constantchi u baishu níveu ezibídu pur jóveinhs einh hedasõinhs dji vestchibular i graduasãu. Claro ci nãu si pódji djisconsiderar u papel ci u sucatchiamentu da educasãu nasionau teinh nesi fenômenu, mais isu é tema para outru testu. U ci mi shama mais a antensãu nesi fenômenu é uma pergunta ci ouvi amiúdji dji alunus dji nível fundamentau, médjiu i superior: purque utchilizamus a mesma letra para sons djiferentchis?

Tomandu pur bazi u falar paulistanu, temus as vogais E (as vezis pronunsiada comu I) e O (as vezis pronunsiada comu U). Entri as consonantchis, temus a letra C cumprindu sounh dji C i dji S (aleinh do Ç, ci tein sounh dji S); a letra D ci, dependendu du cazu, teinh sounh dji D ou DJ; a letra G, counh sounh dji G i dji J; a letra H, ci num teinh sounh própriu; a letra M, ci muitas vezis é pronunsiada comu N; a letra Q, ci só é utchilizada susedjida de U (QU) i teinh sounh dji C; a letra R, ci teinh variasãu dji sounh entri R i RR, aleinh dji variar u sounh si prezentchi nu iníciu ou nu meiu da palavra (o R einh iníciu dji palavra poderia ser substchituídu pelo H, por ser mais aspiradu, conservandu seu sounh para o R einh meiu dji palavra); a letra S cumprindu sounh dji S i dji Z; a letra T, ci varia dji sounh si susedjida dji A, E, O, U (TA, TE, TO, TU) ou I (TCHI); a letra X, ci teinh sounh dji CH (ci, por sua veis, nãu teinh u sounh ci deveria ter i deveria ser escritu SH, comu na palavra “sharópi”) ou Z (comu einh “ezeinhplu”). Us asentus agudu ( ´ ) i sircumflecsu ( ˆ ) neinh seinhpri cohespodeinh às auterasõinhs sonoras, postu ci muinhtas vezis falamus E comu É (i vice-versa).

Mi parési claru ci nósa grafia tomou unh humu completameinhtchi djifereinhtchi da nósa fala. A justchificatchiva para ci uma palavra seja scrita cum S ou C ja nãu teinh pur bazi u eventu sonoru, convertendu-si numa abstrasãu da abstrasãu. I esa grafia, somada à defisiênsia das hedjis dji ensinu, ajuda a piorar u níveu ortográficu nasionau.

Intendu ci uma mudansa brusca nas hegras ortográficas criaria muinhtus problemas imedjiatus indezejáveis. Á muitus falantchis da lingua já abituadus às hegras prezentchis i uma mudansa tãu profunda nãu seria beinh hesebida pur forsar muinhta jentchi a heaprender a screver. Mais u problema está na má grafía ou na má estruturasãu dos testus? Nãu seria ese unh cazu einh ci é nesesáriu “cebrar u ovu para fazer uma omelétchi”? Será ci ese sacrifísiu nãu seria, nu finau, benéficu? Ou seria tudu isu uma grandji piada?

30.10.07

the elsewhere prince

E aqui se encerra uma era.

26 anos bem vividos.

Quando souber se tenho algo mais a dizer, aviso vocês.

Beijos e abraços a todos.

4.9.07

consagração da primavera



vamos lá...o semestre já está desbotando, a primavera continua no ar de São Paulo (todos os dias entre 08:00 e 11:00), aviões caem, serviços de saúde subitamente se convertem em "melhores do mundo" e a gente tem que continuar...alguma coisa. Não sei porque me é cada vez mais recorrente a imagem daquele velho desenho do pica-pau, onde um bando de lunáticos desciam o Niagara Falls em barris, enquanto lunáticos entorpecidos de capas de chuva amarelas simplesmente observavam e aceitavam aquilo como parte da vida.

e talvez seja.

todos queremos fazer algo proibido, dar vazão à criança interior ("sliiiiiiide!"). no entanto, animais sociais que somos, nos controlamos para facilitar o convívio com o(s) próximo(s). se levarmos isso às últimas consequências, temos que os fortes se aproveitam dos fracos, os lobos das ovelhas, nobres impunham impostos e taxações exorbitantes aos seus súditos e eles, claro, pagavam, com medo de incorrerem na ira do filho do céu. não é muito diferente do que vivemos hoje, não? obviamente, não espero que nos tornemos todos lobos, a legislação proíbe o monopólio de mercado. mas, sinceramente, seria pedir demais que aprendêssemos um pouco mais com os exemplos passados?

vejamos...que tal ghandi? desobediência civil é uma idéia muito boa, imagino o que aconteceria se, do dia para a noite, uma parte considerável e substancial da cidade - digamos a zona oeste - se negasse a pagar impostos municipais sob o argumento de que eles não estão sendo devidamente revertidos em benefícios, ou seja, impostos para o trânsito e as vias de transporte não revertem em melhores ruas, avenidas e sistemas de transporte público; impostos de saúde não revertem em melhores hospitais, clínicas e pronto-socorros e médicos e enfermeiros; impostos para educação não revertem em melhores escolas e professores etc. me parece que seria uma boa maneira de pressionar o governo, seja ele de instância municipal, estadual ou federal.

o espertinho da cadeira do fundo pergunta: "mas e nós, como ficamos sem esses serviços?". Eu respondo com outra pergunta: nós temos, efetivamente, esses serviços? estamos sendo bem atendidos pelo governo? então, que é que temos a perder?



é normal ouvir as pessoas mais velhas falando adolescente acha que o mundo nasceu com ele... e se pararmos para pensar, não é verdade? ora, é na adolescência que começamos a realmente nos dar conta da alteridade, de que os outros não estão lá para nos servir ou como uma manifestação levemente descontrolada do nosso subconsciente/inconsciente, que eles também são pessoas que independem da nossa vontade, e estarão lá quando fecharmos os olhos (seja esse onde for). assim, quando, nessa época da vida, achamos que tal banda foi a primeira a fazer x coisa no palco e vem aquele coroa dizer "olha, não é bem assim, jimi hendrix já fez isso lá nos anos '60...", é normal que a molecada diga tá falando merda!. por quê? porque jimi hendrix não existe na cabeça deles; o show da banda x existe como uma realidade atual, que se pode ouvir/ver/comprovar...como fazê-lo com os anos 60?

dando um passo a mais: os fatos alegados podem ser comprovados, mas como entendê-los sem ter estado lá? de certa maneira, o que a banda x faz (nesse exemplo extremamente pedagógico e simplificado) é atualizar esses dados para a atualidade. chamemos a isso de reinserção histórica. então, por quê tantos problemas entre a molecada e os que vieram antes? porque, atualmente, a informação que chega aos novos é superficial, enciclopédica, e as pontes entre o que já foi e o que é cedem e caem sobre o rio. consequentemente, o que era uma revisão passa a ser a história sendo feita, aqui e agora, sem precedentes. em suma, passa a ser uma visão histórica, ao invés de uma revisão. assim, temos uma juventude com um acesso à informação sem precedentes na história humana, mas que não sabe o que procurar, como estabelecer relações, extrapolar conclusões, pensar. e temos diversas gerações anteriores que não tem tanta intimidade com o ferramentário mas que pensa. resultado: conflito generacional. em última análise, o fato que o guri presencia (ainda que de maneira não presencial) já não é o mesmo que àquele presenciado por seus pais décadas atrás. quando alguém queima uma guitarra hoje, não está invocando um espírito totêmico como hendrix e, por consequência, não está fazendo o mesmo que antes, ainda que o gesto seja idêntico.



a propósito, quem diz que o heavy metal é coisa dos anos '70 nunca ouviu "Le sacre du printemps".

25.5.07

poetagem

aura velada
natureza calada
revelada

*

o céu laranja
memórias d'um instante
no teu reflexo

*

compenetrante
grito subterrâneo
do nosso sexo

*

no mar revolto
nosso líquido primal
é só saudade

27.4.07

cursum perficio

Verbum sapienti:

quo plus habent,

eo plus cupiunt.

Post nubila,

Phoebus

Iterum.


*************
pensava deixar essa postagem para o final do ano, quando já estivesse garantida minha ida para outras terras. No entanto, quanto mais tempo passa, mais me dou conta de que já naquele momento me despedia. Assim - ainda que atrasado - fica o registro daquele momento, poético talvez só para mim, do parto metafórico de um sentimento vivo.

as coisas vivas erram.

nada podre da errado.

em verdade, em verdade vos digo,

estou cansado. muito cansado. (i)mor(t)almente cansado.

cansado de falar do desperdício, da hipocrisia (no nosso caso, suponho que o prefixo venha de hipos – cavalo – e não de hypo – pouco), do cavalo-caso cool dos pseudo-intelectuais dos diversos "centros de estudos de trocadilhos" (também conhecidos como faculdades), da corrupção generalizada, do roubo institucionalizado, do desfiar de lamentações pelo "po-bre-zi-nho-do-po-vo-bra-si-lei-ro" (ainda me pergunto quem é esse tal de "povo brasileiro" de que tanto falam), da dor de cotovelo alheia, da ignorância, do nosso politeísmo mal assumido (chega a ser ridículo, um país que não pode dedicar um feriado a seu primeiro santo canonizado pela madre igreja de roma porque excedeu a quantidade de feriados no ano), do...


still talking to myself, and nobody's home...


às vezes vejo passarem pessoas, reconheço algumas, outras nem tento. me sinto como "o inominável", não posso mover nem mesmo os olhos para conferir se tenho um corpo, se tenho membros; há luzes aqui, suponho que de diversos matizes e cores e intensidades ainda que todos esses matizes e cores e intensidades se percam na bruma-ambiente e se pareçam cinza, não, não cinza, mas um sépia envelhecido, quase bege. os sons morrem perto, não há eco, nenhuma vibração reverbera em meu presumido corpo, pois que creio que as reverberações que sinto sejam provenientes de mim mesmo (será possível um corpo produzir e reverberar simultâneamente, me pergunto, creio que sim). não há tato, tudo – se assumimos que tudo é aquilo que importa para alguém, como um signo é algo que representa algo para alguém – dizia, tudo está longe demais para causar a menor sensação tátil em mim, se é que há uma massa biológica para senti-la. não posso dizer que sinta cheiro, assim como não posso dizer que sinto algum sabor, pois que conheço apenas um cheiro e um gosto (se o são) e não tenho bases de comparação para afirmar tal coisa. creio poder afirmar que penso, ou que penso que penso, talvez tudo não passe de uma elocubração na cabeça de alguém e eu seja simplesmente uma ficção, não, não, isso já seria ir longe demais, estaria eu me convertendo num paranóico, me pergunto, mas logo desfaço tal suposição, pois que não sei o que e um paranóico, nunca vi um nem conversei com um para saber ou ter a mínima idéia do que é ser paranóico. ao fim, percebo estar andando, não, não poderia estar andando por que não sinto minhas pernas (se as tenho) se mexendo, assim que percebo estar pensando em círculos. talvez agora seja melhor eu começar por outro lugar, se existir outro lugar, onde agora, me pergunto, quando agora, me pergunto, quem agora, me pergunto.


so nobody ever told you baby, how it was gonna be?


me deixo consumir pelo stress, fumando demais e comendo mal, partindo da hipótese de que uma hora me cansarei disso (como uma criança que come doce demais e depois enjoa) e tocarei minha vida pra frente livre dessas amarras. mas e não é que, bem em meio a essa crise tão dramática e pungente, no momento em que deveria levar a platéia às lágrimas, me dá uma vontade louca de comer suspiro?

24.4.07

lean mean fat grilling machine

Acreditem, não é picaretagem. Simplesmente recolocando em público certas coisas já ditas que valem a pena. É curioso notar quanta gente anda por aí com os referenciais meio distorcidos (na minha opinião, claro) e como essa letra continua atual. Àqueles a quem a carapuça serve, sintam-se em casa.

*************



Locomotive (complicity)

Gonna find a way to cure this loneliness
Yeah I'll find a way to cure the pain
If I said that you're my friend
And our love would never end
How long before I had your trust again
I opened up the doors when it was cold outside
Hopin' that you'd find your own way in
But how can I protect you
Or try not to neglect you
When you won't take the love I have to give
I bought me an illusion
An I put it on the wall
I let it fill my head with dreams
And I had to have them all
But oh the taste is never so sweet
As what you'd believe it is-
Well I guess it never is
It's these prejudiced illusions
That pump the blood
To the heart of the biz

You know I never thought
That it could take so long
You know I never knew how to be strong
Yeah, I let you shape me
But I feel as though you raped me
'Cause you climbed inside my world
And in my songs
So now I've closed the door
To keep the cold outside
Seems somehow I've found the will to live
But how can I forget you
Or try not to reject you
When we both know it takes time to forgive

Sweetness is a virtue
And you lost your virtue long ago
You know I'd like to hurt you
But my conscience always tells me no
You could sell your body on the street
To anyone whom you might meet
Who'd love to try and get inside
And bust your innocence open wide

'Cause my baby's got a locomotive
My baby's gone off the track
My baby's got a locomotive
Got ta peel the bitch off my back
I know it looks like I'm insane
Take a closer look I'm not to blame
No

Gonna have some fun with my frustration
Gonna watch the big screen in my head
I'd rather take a detour
'Cause this road ain't gettin' clearer
Your train of thought has cut me off again
Better tame that boy 'cause he's a wild one
Better tame that boy for he's a man
Sweetheart don't make me laugh
You's gettin' too big for your pants
And I's think maybe you should
Cut out while you can
You can use you illusion-
Let it take you where it may
We live and learn
And then sometimes it's best to walk away
Me I'm just here hangin' on
It's my only place to stay at least
For now anyway
I've worked too hard for my illusions
Just to throw them all away

I'm taking time for quiet consolation
In passing by this love that's passed away
I know it's never easy-
So why should you believe me
When I've always got so many things to say
Calling off the dogs a simple choice is made
'Cause playful hearts
Can sometimes be enraged
You know I tried to wake you-
I mean how long could it take you
To open up your eyes and turn the page

Kindness is a treasure-
And it's one towards me you've seldom shown
So I'll say it for good measure
To all the ones like you I've known
Ya know I'd like to shave your head
And all my friends could
paint it red
'Cause love to me's a two way street
An all I really want is peace

But my baby's got a locomotive
My baby's gone off the track
My baby's got a locomotive
Got ta peel the bitch off my back
I know it looks like I'm insane
Take a closer look I'm not to blame
No

Affection is a blessing
Can you find it in your sordid heart
I tried to keep this thing
ta-gether
But the tremor tore my pad apart
Yeah I know it's hard to face
When all we've worked for's gone to waste
But you're such a stupid woman
And I'm such a stupid man
But love like time's got its own plans

'Cause my baby's got a locomotive
My baby's gone off the track
My baby's got a locomotive
Got ta peel the bitch off my back
I know it looks like I'm insane
Take a closer look I'm not to blame
Yeah
If love is blind I guess
I'll buy myself a cane

LOVE'S SO STRANGE

23.4.07

the fountain

Fazia frio, eu não tinha a menor vontade de me levantar. Estiquei o braço para uma prateleira e peguei um livro que trouxera e do qual gostava muito: os poemas de Mallarmé. Li lentamente, ao acaso; fechei-o, tornei a abri-lo, deixei-o de lado. Nesse dia, pela primeira vez, tudo isso me pareceu sem sangue, sem odor nem sabor, sem substância humana. Pelavras de um azul-desbotado, vazias, soltas no ar. Uma ´gua destilada, perfeitamente pura, sem micróbios, mas também sem conteúdo nutritivo. Sem vida.
Como nas religiões que perderam sua inspiração criadora os deuses se tornaram apenas motivos poéticos ou ornamentos decorativos da solidão humana – e das paredes –, assim era esta poesia. A aspiração veemente do coração cheio de terra e de sementes transformou-se num impecável jogo intelectual, uma arquitetura aérea, erudita e complicada.
Tornei a abrir o livro e recomecei a leitura. Por que esses poemas me empolgaram durante tantos anos? Pura poesia! A vida transformada em jogo lúcido, transparente, nem sequer pesada como uma gota de sangue. O elemento humano é carregado de desejo, é turvo e impuro – amor, carne, lamento. Que se sublime, pois, a idéia abstrata e, no alto-forno do espírito, de alquimia em alquimia, se imaterialize e se dissipe!
Como todas aquelas coisas, que outrora tanto me fascinaram, naquela manhã pareciam apenas acrobacias charlatanescas! Sempre, no declínio de todas as civilizações, é assim que se acaba a angústia do homem, como nos jogos de prestidigitador, cheios de maestria – poesia pura, música pura, pensamento puro. O último homem que se libertou de qualquer crença ou ilusão, que nada mais espera e em nada mais crê – vê a argila de que é feito reduzida a espírito; e o espírito não tem mais onde lançar suas raízes para sugar e se nutrir. O último homem esvaziou-se; nem sementes, nem excrementos, nem sangue. Todas as coisas se tornaram palavras; todas as palavras, artifícios musicais. O último homem vai ainda mais longe: senta-se no topo de sua solidão e decopõe a música em mudas equações matemáticas.
Tive um sobresalto e exclamei para mim mesmo: "Buda é o último homem! Eis aí o seu sentido secreto e terrível. Buda é a alma pura que se esvaziou; nele está o Nada, ele é o Nada. 'Esvaziai vossas entranhas, esvaziai vosso espírito, esvaziai vosso coração!', grita ele. Onde pisar, não brota mais água, não cresce erva, não nasce uma só criança. É preciso", pensei, "citá-lo, mobilizando as palavras encantadas, apelando para a cadência mágica, e lançar-lhe um feitiço que o faça cair de minhas entranhas! É preciso que, para me livrar, eu o prenda na rede das imagens!"

(Nikos Kazantzakis, Zorba, o Grego)



If I started from the top
And worked my way down
There'd be no reason
To live forever

The starvation has turned
Me outside in
And the wind has blown
Me halfway across the world
Across the world

Why was I born
In an age of distrust
I'd offer some change
For a photograph
It will always be the same
You will always be the same

Until I show desire for revenge
My heart never once went astray
As long as I have to die in the attempt
Then there'll be no reason
To live forever

(Dream Theater, To Live Forever)



Era necessário dizer algo sobre esse filme, ainda que não fossem de minha autoria. O que nós realmente queremos? O mito da vida eterna, do amor que supera a vida (por æons)...no fundo, o amor por nós mesmo e nosso apego pela vida.

A eterna pergunta lançada no vazio da noite





por que existo?





Tudo o que fazemos para ocupar nossa (curta) estada nessa hospedaria na curva no universo, todas as tentativas de deixar uma marca para a posteridade (Kilroy esteve aqui), todas as cerimônias, todoas as glórias, todo o dinheiro...nada disso realmente importa, não quando comparado ao ato de criar. Deus é tudo aquilo que nos impele a continuar, seja uma pessoa, uma idéia, um conceito, uma ideologia, uma causa, uma coisa. Não existem ateus.

Amar (mesmo quando não somos correspondidos) é criar.

16.4.07

if I seem superhuman I have been misunderstood

Fazem 9 minutos que um novo dia começou e eu estou comendo miojo.

A ausência é capaz de causar sérias mudanças em nós mesmos. Você nunca sente tanto falta de cigarro quanto quando, no meio da noite, se dá conta que os seus acabaram e ninguém na mesa têm (Porque eu não comprei outro maço?); nunca sente falta do seu melhor amigo até vê-lo embarcando num avião para viver muitos meses longe de você (Porque eu não fui visitá-lo mais vezes?); nunca sente falta do amor até conhecê-lo de verdade (Onde você esteve todo esse tempo?).

Somos seres egoístas, ninguém disputa esse fato. Só sentimos falta quando já não há nada a ser feito e aí nos culpamos (ou aos outros, dependendo da moral de cada um) pelo que poderia ter sido. Nos arrastamos na mesmice por medo do diferente e depois, quando o diferente nos rejeita (por qualquer razão) nos sentimos feridos e humilhados, invariavelmente julgando injusto o acontecido.

Temos uma natureza macunaímica. Quando digo isso, não me refiro ao tão propagado (e infundado) mito da preguiça brasileira. Ou melhor, não como tradicionalmente se refere à tal mito. O brasileiro não é preguiçoso nem vagabundo, exceto quando se trata de cuidar da sua própria vida. Quantas vezes não vemos pessoas serem tradadas de maneira mais desrespeitosa que um animal e não fazemos nada? Ora, na maioria das vezes não fazemos nada nem quando nós mesmos somos tratados assim! E, no entanto, assim que termina o dia e saímos da casa-grande, nos encontramos na senzala e comentamos um com os outros: "nós não devíamos viver assim, isso é indigno". Mesmo assim, quando raia o novo dia, lá estamos nós no batente sorrindo p'ro sinhôzinho. E não bastasse tal atitude com relação ao nosso trabalho, à nossa vida pública, à nossa cidadania, agimos assim com relação aos nossos afetos.

A pessoa a quem eu amo vive longe de mim. Diversos fatores tornam, no atual momento, impossível uma vida a dois como normalmente deveria ser. E tudo o que vejo à minha volta faz a luz no fim do túnel cada vez mais parecer uma miragem.

18 minutos depois, ainda não digeri meu miojo.

20.3.07

Retrato do artista enquanto jovem




Como artista, busco expressar-me da maneira mais particular que me é possível, buscando transmitir a soma de conhecimentos, vivências e experiências, que dão à minha obra um caráter pessoal, sem filiar-se a escolas ou ideologias. A criação não pode ser feita sob limitações intelectuais (excluindo-se como tal àquelas auto-impostas pelo artista no fazer de uma obra) e isso faz com que eu esteja sempre buscando conhecer e dominar mais ferramentas da minha área (estilos composicionais, grupos e formações, formas musicais, técnicas composicionais etc.), bem como o maior volume possível de informação meta-musical.
No entanto, me pergunto: qual o papel da arte atualmente? Ainda existe “arte”? Conseqüentemente, existe isso que chamamos “artistas”? A negação de certas referências culturais estabelecidas nos séculos anteriores ao XX produziu um vazio cultural em que qualquer coisa que produza som é chamado de música. Noto a falta de afirmação da arte hoje, que se contenta em ser algo “pós” alguma coisa (pós-moderno, pós-guerra-fria... póstuma?) como a sociedade em geral. Abrimos mão (temporariamente, espero) de buscar caminhos alternativos, nos contentando com o entretenimento. Assim, entendo que os artistas (sim, eles ainda existem!) são aqueles que buscam maneiras de afirmar-se e criam novos caminhos, enquanto os “entertainers” são aqueles que cristalizam, por assim dizer, um dado em nossa cultura.
Particularmente, me fascinam o universo da paisagem sonora reconstruída com instrumentos musicais (diferente daquela feita com eletrônica, que dá, a meu ver, menos espaço à imaginação do ouvinte justamente por apresentar o som real) - inclusive suas aplicações em trilhas sonoras para teatro e cinema -; e os processos musicais do teatro tradicional japonês (Nôh e Kabuki), cujas “trilhas sonoras” sempre se assemelharam mais a paisagens sonoras. Busco uma maneira de misturar as tradições ocidental e oriental de música descritiva, buscando um meio termo entre o poema sinfônico e a música “pontual-descritiva”. Acho importante assumir meu papel como homo sapiens sapiens, bem como homo sapiens sentio, saber a direção para a qual caminho, ainda que, felizmente, não saiba o que encontrarei no caminho.

13.3.07

Dragão de cômodo informa...

...o blog acessado está temporariamente desligado ou fora da área de serviço. Por favor, tente mais tarde.

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Agradeço a preocupação dos frequentadores mas, devido a problemas de interface entre meu computador e o blogger, não consigo publicar novos textos. Assim que o problema for resolvido, voltaremos com nossa programação normal.

10.1.07

auto-retrato de um bonequinho de lego

I'm Jack's floating rib.

Aquela coisa teoricamente inútil, resquício de uma época em que necessitávamos de uma estrutura óssea menos flexível. A cauda vestigial, a pele similar a uma membrana entre os dedos, o excesso de pelos pelo corpo. A vontade de ser romanticamente pervertido – lembra quando vimos aquele filme porno trash no quarto de hotel?–, a inocência de outros tempos de achar que porque gosto sou gostado (neologismos sempre foram meu forte, siempre me ha gustado ensueñarme, condição cine qua non de uma vida criativa) – ah, aquele dia no cinema eu você estava tão distante e eu me senti tão só...

Don't be afraid as she pulled down the shade
Said there's nothing to fear but the monster is here
So just tell me the time, be it quarter of nine
Since the sun's gone away, now the creature will play


Aquilo que garante uma coluna razoavelmente balanceada, sou eu.

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I'm searching for something which can't be found...but I'm hoping

Caminho. No meio da noite, reparo em detalhes que ninguém mais viu e seguro sua mão e te conto de como estão destruindo a história térrea deste bairro para substituir por torres de marfim. Pedaços de vida em meio a tijolos antigos e cacos de telhas e azulejos, a história do país num terreno (agora) baldio.

Caminho. Por horas e horas sob o mormaço de um orga(ni)smo vivo exposto a 76% de umidade relativa (seria excitação?), comentando partículas particulares. Examinando o futuro de nosso casebre de sapé, detestando a realidade de nosso primitivismo social. Me pergunto se há uma consciência nesse pó que tanto varremos pra debaixo do tapete. Afinal, não há coisa mais incômoda que consciência, mas nossa ascendência macunaímica nos impede de ter tanto trabalho a ponto de jogá-la fora... é mais fácil esconder "onde a patroa não veja".

Still looking for someone who was around... barely coping

Caminho. Uma picada tão funda pra dentro de mim que me perco no processo de caminhar. Demorei para me dar conta dos estranhamente cativantes contornos melódicos dessa maravilhosa sinfonía má orquestrada, da vegetação exuberante que há nessas paragens (esse gênero híbrido vegetal-animal-concretual), dos pequenos jardins ocultos por detrás das portas cerradas, multiversos coloridos em expansão congelada, criostase. Uma infinidade de gente que silenciosamente grita BEBA-ME, enquanto outras tantas infinidades escandalosamente sussurram COMA-ME.

Um dia ainda encontro um campo de críquete com tacos-flamingos pra jogar com um adversário real.

5.1.07

observidão

150 outdoors retirados pela prefeitura na sua campanha contra a poluição visual urbana. Ao todo, são cerca de 5000 em toda a cidade.

Resoluções de "ano novo" não foram feitas para durar.

A primeira que fiz na minha vida durou exatamente 20 horas. Ao voltar pra casa depois de mais de dois dias de festa devido à mudança de mês, não resisti às tentações nicotínicas e voltei a fumar. Primeiro um cigarro, no dia seguinte dois, no seguinte 3 e hoje estou de volta ao ritmo natural. Sigo dizendo que vou me controlar... – talvez por não ser um dia especial essa seja mais válida.

Assim, continuo lidando com a distância – emocional, física, intelectual – do mundo que me cerca. Estou cada vez mais em paz com o fato de que nem todos são simpáticos, inteligentes, sacados e de que, se a estupidez é uma constante e o universo continua em expansão, isso é um indicativo forte com relação a situação do mundo e talvez explique a existência – a despeito da suposta existência de uma entidade chamada Deus – de criaturas tais como Jorge Caminhante Moita. A imbecilidade é uma constante.

173 km. de congestionamento no retorno à São Paulo.

Trans-piro-pareço raiva, quando estou tão-somente intrigado com o medo brasileiro de se olhar no espelho. Frustração, quando bestificado pelo provincianismo. Arrogância, quando só passei 0.3246753% da minha vida em terras não-tupiniquins. Sin embargo, como se diz coloquialmente, "não preciso comer um ovo que cheira mal e tem cor verde pra saber que está podre". Não vou falar de política hoje, mas dá pra perceber onde quero chegar, não?

"Vocês têm um som. Componham com ele. Tudo o que peço é que não me aborreçam."

Assim, fico feliz de ver pessoas a quem quero bem amando (direta, indireta ou platônicamente), amargando suas dores pessoais e acreditando que um dia tudo pode ser melhor. Fico feliz de ver a mim mesmo assim, apesar dos 365 (agora 360) entre eu e minhas metas. Me encanta que ainda apostemos em nós mesmos, ainda que fechando os olhos aos não-imediatamente-próximos. O importante é que cultivemos nossas habilidades (mentais e físicas), nossa capacidade de amar incondicionalmente (tão típico daqui), nossa poesia cotidiana no tratar com os outros (sempre tão poucos).

"Poesia é quando as palavras cantam"