17.12.06

Vidas com substância

Quando li pela primeira vez um texto do filósofo Slavoj Szizek falando sobre a "era do café descafeinado" achei um exagero. Quer dizer, claro que há muitas pessoas que usam e abusam (C&A) de coisas assim, fazem uma pausa no trabalho para tomar um Nescafé (o café descafeinado com gosto de café feito em casa); pedir uma Coca-Cola light no almoço (porque refrigerante engorda, mas aquela feijoada que estava no prato não...); voltar pra casa no seu totalflex (pra poupar grana de combustível, que a gasosa tá cara) que é o segundo ou terceiro carro da tua família (porque não dá pra ficar sem carro em dia de rodízio, né?); beber uma cerveja Kronenbier (sem álcool, porque álcool engorada, dizem as últimas pesquisas); agradecendo a deus pelo alisamento progressivo (porque cabelo cacheado é liiiiindo de morrer mas dá um trabalho...)

Bem, ok, talvez eu estivesse sendo inocente e acreditando na bondade inerente do ser humano, que o Brasil é o país do futuro, que ter potencial é igual chegar lá (um dia!) e que o negócio é esse mesmo, sorria pro Sinhosinho Malta e deixa ele fazer um cafuné na tua cabeça, ter uma experiência de contatos imediatos do terceiro grau com um nativo vindo diretamente da selva, trocar ouro e pedras preciosas por miçangas e espelhos... Mas todos têm que ser inocentes um dia, até um certo ponto, claro.

Vivemos vidas de mentira, iludindo a nós mesmos que é "the real thing".

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Agora a eMpTyV não toca mais música. Genial, não? Um canal de música que não toca música...garçon, um mixto-quente sem presunto e sem queijo, por favor!

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Estive conversando com um amigo sobre a questão do aumento de 90% do salário dos congressistas (que em menos de um ano já terá beneficiado todo o funcionalismo público) e ele me disse: "Mas, cara, pensa só...deve ser muito difícil decidir seu próprio salário!". Realmente, deve ser difícil decidir se R$ 150.000, 00 por mês (entre salários e benefícios) é pouco, o bastante ou muito para um deputado federal.

Esse aumento acarretará um prejuízo de cerca de R$ 200.000.000 por ano para os cofres públicos. Mas aumentar o salário mínimo em, digamos, R$ 100,00 é algo impraticável, assim o país vai a falência. Então, vamos manter o salário de todos baixo e aumentamos o nosso, que aí ninguém reclama, certo?

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Depois de tudo isso, lanço o concurso "Brasil, ame-o ou deixe-o (e o último que apague a luz)". A idéia mais criativa para substituir o bom e velho "ordem & progresso" (é, com & comercial mesmo!) da nossa muy querida y amada bandeira leva uma bala 7 belo.

Eu abro com: anuncie aqui.

Dê o seu pitaco.

7.12.06

Echando de menos

Tantas coisas tao distantes, buscando a vida em cada ínfimo detalhe, buscando uma pedra que nao seja cascalho, buscando Wally nas plazas movimentadas. As pupilas tentando imortalizar na carne (tao pouco tempo!) todo os pequenos detalhes, os neurônios rebuscando a memória, comparando e vibrando com as semelhancas e diferenças.

É tentar compreender porque as coisas te tocam tao fundo. Tentar juntar dois mundos inconciliáveis, buscando aquele equilíbrio perfeito que nunca vai acontecer (ainda bem!). Sentir-se um estranho no ninho e ao mesmo tempo mais em casa que nunca. Ouvir aquela música que você sempre quis ouvir nas situaçoes de maior fragilidade e perceber que elas ainda sao tao parte de você.



*****

Sou a vida em meio ao cinza, esse resquício de casa, essa umidade constante que nao me deixa olvidar (plúmbeo!), sangue correndo em veias alheias, tao cientes da diferença presente. A escrita com passos largos, vagos, curiosos. El sonido urbano de un enorme pueblo.



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I'm much wiser now
A lifetime of memories
Run through my head
They taught me how
For better or worse, alive or dead
And I realize there's no turning back
Life goes on the offbeaten track
I sit down with my son
Set to see the Crimson Sunset
Many years have come and gone
I've lived my life but now must move on
He's my only one
Now that my time has come
Now that my life is done
We look into the sun
"Seize the day and don't you cry
Now it's time to say good-bye
Even though I'll be gone
I will live on"

16.11.06

estamos adorando madrid

Ironias a parte, a vida sempre da um jeito de nos surpreender, nao? Pessoas diferentes e lugares interessantes sao esperados, mas...

Encontrar essa terra mais quente que Sao Paulo (e eu ja tinha avisado que, se aqui estivesse quente, alguem ia pagar por isso!). Mas que e isso, menino, relaxa, aproveita a vida. Entao, la vamos nos. Na primeira noite, companheiros de hostal simpaticos e uma cervejada. E ontem, rodando pelo centro historico de Madrid, conhecendo os velhos amigo de um velho amigo, emborrachandome pela noite.

E eis que hoje, outra surpresa: chove. Muito. E eu, que nunca ouvi minha mae ("Toma juizo, menino!", ao que eu respondia "Mae, eu procurei tomar esse tal juizo, mas na vida la fora so tem cachaca, cerveja, whiskey..."), agora estou sem guarda-chuva. Mas e dai? Como nao sou feito de acucar, saio na chuva mesmo e que se dane.



Informacao de almanaque para voces: esse ai em cima e o verdadeiro marco zero de Madrid, onde todos se encontram.

4.11.06

T menos 10 e contando

Fiz muito. O velho deitado já dizia pra não ir com muita sede ao pote, mas eu já não tenho paciência para certos jogos – ou melhor, creio que nunca tive, mas agora assumo isso, vestindo a satisfação desse manto como uma túnica azul royal, daquelas que Moisés vestia quando passeava por Amsterdam.

Existe uma maneira certa de fazer isso, mas eu não sei.

No entanto, sei que a escolha foi apropriada, um poema de entrega que é dúbio com relação a suas intenções: amor ou amizade? Um dos maiores poetas daquelas ilhas, muito afeito ao erotismo era, apropriadamente, um padre. Um equivalente a altura de seu conterrâneo/contemporâneo Sheakespeare, um poeta que recomendo para todo homem apaixonado que queira, em linhas, destrinchar suas partes para ela.

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Muitas desperdidas para fazer. Me sinto quase como o cachorro que foi enviado ao espaço nas primeiras experiências de "vôo tripulado". O intrépido cosmonauta Spiff.

É curioso ver as reações de cada pessoa e, em alguns casos, uma surpresa pelo carinho. Estou ansioso para viver outros ares, ter uma comparação para esta realidade multi-colorida e -facetada que conheço desde que nasci.

¡Hasta luego!

3.10.06

quadrilhado

Após mais de um mês de sumiço forçado pelo blogger, eis que a criatura está de volta. Smarter, stronger, more agressive...I feel like...like....I feel...like...I could...like I could...TAKE ON THE WORLD!

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Curioso como, durante o primeiro turno das eleições desse ano, quase todos os meios de comunicação e os próprios políticos fizeram plantão reforçando que voto nulo não é voto válido. OK, true enough segundo a Constituição de 1988. Curiosamente, ninguém (e – não que isso seja surpresa – nem os jornalistas/jornaleiros deste Brasil varonil) mencionou o seguinte fato: o artigo 175 da lei 4.737 de 15 de julho de 1965 define o que é um voto nulo, mas algumas dessas definições caíram em desuso com o advento da urna eletrônica. Porém, um parágrafo desse artigo chama a atenção:

§ 3º Serão nulos, para todos os efeitos, os votos dados a candidatos inelegíveis ou não registrados. (Parágrafo renumerado pelo art. 39 da Lei 4.961, de 04/05/66)

No site do TSE, no entanto, encontra-se o seguinte detalhe:

Se mais de 50% dos votos forem nulos ou anulados, faz-se nova eleição?
Esse questionamento, relacionado à interpretação do art. 224 do Código Eleitoral, terá respostas distintas, conforme a ocorrência das seguintes situações:

a) Votos anulados pela Justiça Eleitoral:
Se a nulidade atingir mais da metade dos votos, faz-se nova eleição somente quando a anulação é realizada pela Justiça Eleitoral, nos seguintes casos: falsidade; fraude; coação; interferência do poder econômico e desvio ou abuso do poder de autoridade em desfavor da liberdade do voto; emprego de processo de propaganda ou captação de sufrágios vedado por lei.
A nova eleição deve ser convocada dentro do prazo de 20 a 40 dias.

b) Votos anulados pelo eleitor, por vontade própria ou por erro:
Não se faz nova eleição. Segundo decisão proferida no Recurso Especial nº 25.937/2006, os votos anulados pelo eleitor, por vontade própria ou por erro, não se confundem com os votos anulados pela Justiça Eleitoral em decorrência de ilícitos. Como os votos nulos dos eleitores são diferentes dos votos anulados pela Justiça Eleitoral, as duas categorias não podem ser somadas e, portanto, uma eleição só será invalidada se tiver mais de 50% dos votos anulados somente pela Justiça Eleitoral.


§ 1º Serão nulos os votos, em cada eleição majoritária: 
I - quando forem assinalados os nomes de dois ou mais candidatos para o mesmo cargo;
II - quando a assinalação estiver colocada fora do quadrilátero próprio, desde que torne duvidosa a manifestação da vontade do eleitor.
       
§ 2º Serão nulos os votos, para a Câmara dos Deputados e Assembléia Legislativa, se o eleitor indicar candidatos a deputado federal e estadual de partidos diferentes. (Revogado pelo art 39 da Lei nº 4.961, de 4.5.66)

§ 2º Serão nulos os votos, em cada eleição pelo sistema proporcional: (Parágrafo renumerado pelo art. 39 da Lei 4.961, de 4 5.66)
I - quando o candidato não fôr indicado, através do nome ou do número, com clareza suficiente para distinguí-lo de outro candidato ao mesmo cargo, mas de outro partido, e o eleitor não indicar a legenda;
II - se o eleitor escrever o nome de mais de um candidato ao mesmo cargo, pertencentes a partidos diversos, ou, indicando apenas os números, o fizer também de candidatos de partidos diferentes;
III - se o eleitor, não manifestando preferência por candidato, ou o fazendo de modo que não se possa identificar o de sua preferência, escrever duas ou mais legendas diferentes no espaço relativo à mesma eleição.
IV- se o eleitor escrever apenas a sigla partidária, não indicano o candidato de sua preferência. (Incluído pela Lei nº 6.989, de 5.5.1982) e  (Restabelecido pela Lei nº 7.332, de 1º.7.1985)

§ 3º Serão nulos, para todos os efeitos, os votos dados a candidatos inelegíveis ou não registrados. : (Parágrafo renumerado pelo art. 39 da Lei 4.961, de 4 5.66)

§ 4º O disposto no parágrafo anterior não se aplica quando a decisão de inelegibilidade ou de cancelamento de registro for proferida após a realização da eleição a que concorreu o candidato alcançado pela sentença, caso em que os votos serão contados para o partido pelo qual tiver sido feito o seu registro. (Incluído pela Lei nº 7.179, de 19.12.1983)
       
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Como já disse antes, este é um ano de escolhas. Cada um sabe (eu espero!) porque fez as escolhas que fez e espero que estejam todos em paz com a própria consciência. Fato, é um pouco difícil de acreditar nisso quando temos Paulo Maluf, Clodovil, Frank Aguiar, Aldo Rebelo, Antonio Palocci, José Genoino, Michel Temer, Arnaldo Madeira, Fernando Collor – e tantos outros que não tenho o saco de numerar aqui – (re)eleitos. Mas tudo bem...um passo de cada vez.

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Para àqueles de vocês que tiverem paciência, curiosidade ou interesse o suficiente, aí vai:

http://www.planalto.gov.br/ccivil/leis/L4737.htm#art100ß2
http://www.planalto.gov.br/ccivil/leis/L9504.htm

19.8.06

flesh as a design fault?

A carne marca.
Fácil.

Toda experência fica ali:
comida,
bebida,

sexo,
contato,
convívio,

isolamento.

A carne é

espelho
espelho
teu

A carne é fraca.

1.8.06

memória (full circle)

perder. O problema é lembrar...Sabe?
– Como assim, o problema é lembrar? Isso é justamente o que garante o valor, o que dá o devido peso à coisa toda!
– Sim, sim...o que quero dizer é que dói lembrar! Saber que tudo aquilo aconteceu de fato, apesar mesmo das consequências...por que a lemrança de tudo aquilo coloca o que aconteceu depois em outra perspectiva!
– Mas é justamente isso que torna as relações humanas tão extraordináriamente complexas e interessantes! Ora, se pegarmos qualquer momento isolado, ele tem um conjunto relativamente pequeno de reverberações. Mas se os colocarmos alinhados, antecedente-consequente, tudo adquire nova cor!
– De fato, mas jamais como antecedente-consequente! Isso dá a entender que determinada coisa só poderia ter aquela determinada consequência, coisa totalmente errônea. Por exemplo, o que me aconteceu...havia uma série de caminhos que cada um de nós poderia ter tomado...no entanto, cada fez uma escolha específica dentro de toda essa gama de possibilidades.
– Sim, mas isso não é um sinal de que, tanto para um como para outro, tavez só houvesse uma determinada escolha a fazer?
– Não acredito nisso. Eu mesmo, pensando sobre tudo o que havia acontecido, puxando pela memória todos os detalhes que consegui, cheguei a pelo menos três caminhos a seguir.
– Sei...
– De qualquer forma, nos desviamos do assunto. O fato é que aquele dia ficou na minha memória... e me dói ver no que algo tão bonito se transformou! Eu revejo os pequenos detalhes, mesmo à meia-luz daquela sala... Ah, não sei... quando me revejo de joelhos com aquele sapato vermelho na mão... (suspiro)... O fato é que tudo o que ocorreu – tudo o que aconteceu lá – deixou em mim uma marca indelével, a luz do que tudo o que veio depois não faz sentido...
– Ou talvez você não queira ver o sentido...
– Como assim?
– Ora, talvez você não queira aceitar que o outro tenha o direito mesmo de escolher algo que não esteja nos seus planos, algo que, para você, não faça sentido porque não é o que você escolheria. Que tais memórias não tenham o mesmo peso que têm para você...Encarar isso talvez seja demais para você, pois seria de certa forma algo...não sei, auto-destrutivo, talvez? Porque, ao fazer isso, você estaria renegando quem você é, renegando sua memória?
– Por que aquilo que foi dito não pode nunca ser desfeito! Por que um gesto, depois de tudo o que foi dito, é como uma pedra na água: ela cria reverberações!
– No entanto, é possível que para outros isso não seja assim, não?
– Bem... sim...
– Então, não sofra de antemão! Lembre-se, quem morre de véspera é peru. Afinal, não é como se você não tivesse nada a

8.7.06

medo do silêncio (silence of the lambs)

Há um certo desespero (hoje quase casual e até mesmo in, fashionable) no convívio social/interpessoal e, ao mesmo tempo, um medo da solidão que beira o irracional.

Muitos dizem que sempre foi assim, que isso é uma característica humana e que, hoje, estamos apenas mais conscientes de sua existiencia. Que as recentes mudanças sócio-culturais não modificaram nada, apenas realçaram essa realidade. Eu discordo. Há pouco mais de dois séculos, as cidades (que fique claro desde já, estamos falando do mundo "civilizado", europeu) – reiterando, as cidades não tinham iluminação pública regularizada e mesmo a iluminação doméstica era problemática. Pouco menos de cem anos depois, a lâmpada elétrica era inventada e, nos trinta anos que sucederam sua invenção, foi posta em uso. (Isso em alguns países. No Brasil, o projeto de iluminação pública até hoje é deficiente, mesmo nas grandes cidades, e nos rincões mais distantes, muitos nem conhecem o que vem a ser essa tal de eletricidade). Durante o século XX, a tecnologia proporcionou a cada vez mais pessoas a posiibilidade de se isolar, tendo contato humano cada vez menos e a intervalos cada vez mais espaçados. O surto galopante de maníaco-depressão, falta de estímulo, de auto-estima ou mesmo de "simples" tédio que aconteceu durante o final da década de '70 e que vem se mantendo relativamente estável, com tendência de leve crescimento nas décadas seguintes não é mero acaso. Nunca antes o ser humano teve condições de se "eremitizar", e agora ele pode fazê-lo no conforto do lar.

Filmes como "Clube da Luta" ("Fight Club", EUA, 1999), "It's Only Talk" ("Yawakarai Seikatsu", Japão, 2005) e "Vibrator" (idem, Japão, 2003) tratam desse tema – os dois últimos com personagens principais femininos. Em "Fight Club", a necessidade (sem julgamentos de mérito ou valor) de se mudar a maneira e o mundo em que vivemos; em "It's Only Talk", o quanto o isolamento (a princípio causado por uma "condição médica" – nesse caso, um eufemismo hipócrita, na minha opinião) – repito, o quanto o isolamento é potencializado pela própria pessoa, que busca ajuda sem assumir sua "condição"; "Vibrator" parte da mesma premissa, com um "motivo" (nesse caso, frase) repetido diversas vezes no começo do filme: "I want to touch you". Esse motivo é desenvolvido a seguir: "I want to touch you, but I'm afraid of it...I know it sounds silly...but I'm afraid of what you'll think of me..." No entanto, esse último consegue algo que "Yawakarai Seikatsu" não consegue, ou melhor, não pretende conseguir, qual seja, uma conclusão. Nas palavras da personagem principal do filme: "He was good enough to eat, but in the end he was consuming me." A paz advinda do auto-confrontamento e da experiência. Fi-lo porque qui-lo. As vozes na minha cabeça silenciaram e eu estou em paz.

25.6.06

agradável demais o momento em que vos falo

É uma coisa louca, estar apaixonado a distância. Querer estabelecer contato, "reach out and touch faith", uma necessidade quase imperativa de se fazer ouvir e ser ouvido. Quando se está num estado de espírito levemente melancólico, quando aquela solidão que nos permeia se faz presente e buscamos instintivamente um carinho, quando "tá tudo cinza sem você" e a criatividade gira em falso, sem conseguir encontrar uma válvula de escape – aí é que nos precipitamos, nos jogando de cabeça no vazio-cheio-de-tudo e arriscando todas as fichas.

Tenho me sentido assim já há algum tempo...e isso me enlouquece e, ao mesmo tempo, me motiva a continuar. Não posso ceder um milímetro que seja enquanto não a reencontrar e alcançar aquilo que tanto tenho buscado. Bem sei que fantasio em excesso e que as coisas não se resolverão num passe de mágica pelo simples fato de estar com ela, como nas comédias românticas B- e filmes Hollywoodianos em geral (tema, aliás, tangenciado em uma de nossas últimas conversas), e que aquilo que me incomoda permanecerá lá, em estado talvez latente, talvez exposto...mas, separando o joio do trigo, sei – ou melhor, sinto – que tal contato se faz mister para que certas peças se encaixem em seu lugar, para o bem ou para o mal. Como Cyrano de Bergerac, "Na sombra protetora da noite, eu me atrevo a ser eu mesmo, sem temer ser ridicularizado por causa do bater selvagem do meu coração! Com receio de alcançar uma estrela, colhi flores...mas esta noite...esta noite, uma estrela brilha".

Aqueles que conhecem o resto do texto, saberão ao que me refiro. Toda perdição é válida, desde que seja com algum propósito, um objetivo. Não importam os percalços, os desencontros. Conquanto a vontade permaneça intacta e o poema queira ser escrito, a música soará, de vozes melodiosas ainda desencontradas.

12.6.06

quadriculado

Esse ano é um ano de escolhas. Há duas óbvias:

• Escolher um time na copa do mundo – porque torcer pro Brasil esse ano é furada, já que desde '62 há intercalação de vencedores sul-americanos e europeus. Além disso não tem graça torcer pro Brasil, que é sempre favorito mesmo quando não goleia times infinitamente mais fracos, quando faz um imbroglio qualquer na final (vide '98), quando a comissão técnica e jogadores não são os melhores e outras pataquadas afins;

• Escolher em quem (se em alguém) votar para presidente – afinal, eleições presidenciais são sempre uma escolha entre os despiores, principalmente depois que o último dos inocentes foi eleito e se mostrou pouco diferente dos outros. Embora o atual governo esteja fazendo coisas dignas de nota, como desmantelar a base de ACM na Bahia levando grupos médicos cubanos para o interior do estado-capitania e arrebanhando apoio de prefeitos atrelados à base de Toninho Malvadeza (coisa que no sul maravilha não é comentado devido a falta de apoio às indústrias e conglomerados daqui), isso não torna os atuais inocentes reelegíveis e consequentemente a falta de opções viáveis é alarmante;

Além destas, há ainda aquelas que são diárias e não estão atreladas aos anos de exceção como este. É necessário escolher se se mantém a postura hipócrita com relação à corrupção nacional (da qual só reclamamos quando esta não nos beneficia) ou se cobramos quem deve ser cobrado e paramos de tolerar o "jeitinho brasileiro"; se aceitamos a mediocrização da mídia passivamente, acreditando no discurso de "imparcialidade", ou se pressionamos os grandes veículos a tomarem uma posição sobre os acontecimentos, apontando os pontos de vista de todos os lados da questão. (Há uma grande diferença entre tais posições: uma mostra apenas o que é conveniente ao veículo e não coloca a opinião do mesmo; outra, mostra todos os lados - consequentemente informando o leitor/espectador/ouvinte - e coloca a opinião do veículo, defendendo este ou aquele interesse e apontando suas razões para tal); se continuamos a fazer promessas de ano novo que não vamos cumprir, ou se nos colocamos objetivos que desejamos alcançar; se conseguimos dialogar com os outros, ouvindo (ainda que discordando) de seus pontos de vista, ou se mantemos o discurso de liberdade de expressão e tolerância cultural e continuamos "cegos" aos confrontos inter-tribais; se reclamamos do fato dos bancos não abrirem em dia de jogo da seleção ou se continuamos acreditando que a economia vai muito bem, obrigado.

É claro que há muito mais escolhas que precisam ser feitas e que elas não são apenas uma questão de cara-ou-coroa, preto no branco. Você já fez a sua?

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PS: àqueles a quem cabe, feliz dia dos namorados.

28.5.06

sobre dialogar e conversar

Hoje em dia as pessoas afirmam que se conversa mais do que antigamente e, de certa forma, é verdade. Para citar nosso já-não-tão-amado presidente, "nunca nesse país" se conversou tanto e menos ainda entre gerações diferentes. Se você for a um bar qualquer, vai encontrar pelo menos uma mesa com pessoas de idades diferentes (entre 20 e 50, geralmente) conversando. É bem verdade que muitas vezes a coisa fica com aquele ar de democracia forçada, com os mais velhos querendo se mostrar jovens e os mais novos querendo agir como se tivessem uns 10 anos a mais.

Ao mesmo tempo, hoje é uma época de grandes diferenças culturais, de nano-tribos radicalmente diferentes, cujas diferenças muitas vezes não são perceptíveis nem para aqueles que fazem parte delas.

O curioso é que as tribos raramente se falam e nunca trocam opiniões numa boa. E aqui entra a diferença fundamental: hoje em dia se conversa mais, mas não se dialoga mais do que antigamente. E qual a diferença, você poderia perguntar? A diferença é que conversar implica conversão, ou seja, converter alguém a sua opinião. Implica em Fulano (que defende ponto de vista A) e Beltrano (que defende ponto de vista B) tentando converter um ao outro ao seu respectivo ponto de vista.

Dialogar, por outro lado, implica em nossos amigos Fulano e Beltrano trocando idéias e até mesmo apontando o que vêem de errado no ponto de vista um do outro.

A tênue diferença reside no propósito: conversando, um tenta fazer com que o outro concorde consigo; dialogando, não faz diferença se vai haver mudança de postura ou não, o que interessa é a troca de experiências e pontos de vista.

Pessoalmente, já não tenho saco para conversas. Não estou aqui para convencer os outros de nada. Só exijo aquilo que ofereço: respeito.