3.11.11

...and so I'm back from outer space (you just walked in to find me here with that sad look upon my face)

pois bem... 3 anos e 3 meses depois, cá estamos nós. eu tentei não falar mais de coisas chatas e ser um cara legal. aprendi a sorrir, a não levar as coisas tão a sério, a não entrar em qualquer discussão pelo mero prazer de discutir, a não comprar briga a troco de banana... mas, como tudo que é bom dura pouco (e eu não tenho mais palavras pra dizer te amo), chega.

esses dias estive lendo uma entrevista com um especialista na área energética (entrevista, aliás, que teve um trabalho jornalístico surpreendentemente bom!), tive uma epifania às avessas. já faz muito tempo que venho falando que tem muito mais em jogo do que vemos/percebemos. a gente descobre alguma coisa, que pode ser uma banda, um livro, um filme, uma entrevista, uma pesquisa (e assim por diante), vai no gúgle, joga os dados lá e, confiando na máquina, clica nos primeiros links que aparecem – e não questionamos o resultado. claro, na maioria das vezes, é algo inócuo e objetivo, é fácil saber se a gente acho o que procurava. mas, quando o que buscamos se refere à conteúdo de informação (política, economia, textos críticos), a porca torce o rabo e, invariavelmente, aceitamos informações superficiais (tem até algumas pesquisas sobre isso – http://www.wired.com/magazine/2011/11/st_thompson_searchresults/). ou seja, não pensamos – ou não muito, pelo menos. uma vez "iluminados", saímos pelas redes sociais afora arrotando opiniões mal-digeridas de terceiros, sem nem tentar juntar os pontos e ver qual a imagem que se forma.

voltemos à entrevista com o tal especialista. ele fala sobre como toda a construção de belo monte atende a interesses outros que não a geração de energia, interesses de construtoras, empreendedoras, políticos e quetais (ok, até aí, nada de novo); ele fala do estranho que é um governo que se diz voltado às minorias e aos menos favorecidos atropelar todo o tipo de oposição para executar a tal hidrelétrica (ainda nada de novo); mas ele também fala, de forma bem detalhada, sobre como, no atual esquema das coisas, belo monte só produzirá 4300 megawatts (bem longe dos 11200 megawatts apregoados pelo governo) e que, pra chegar aos tais 11200, o governo teria que construir outras 4 usinas.

e esses são os primeiros pontos.

daí a gente ouve falar do futuro plebiscito, que ocorrerá dia 11/12/2011, sobre a divisão do estado do pará (possivelmente em 3 partes: pará, carajás e tapajós). e fica sabendo que, se a tal divisão sair por inteiro e tivermos 3 estados onde antes tinha 1 só, o ponto de encontro entre eles será próximo da cidade de altamira, que fica mais ou menos no centro do estado e que é onde ficará – adivinhem – a hidrelétrica.

e mais alguns pontos são ligados.

então, tem a demissão do megaron txucarramãe da funai – que implica ignorar uma fonte de contato direta com as populações indígenas do xingú.

e fechar os ouvidos aos relatórios técnicos, aos avisos da oea.

(mais outros pontos – já dá pra ver o elefante branco?)


pois então...e daí, a presidenta vai lá pra cannes fazer a imagem do país – que cada vez mais carece de infra-estrutura (em todos os aspectos), cada vez mais produz bens primários e importa bens de valor agregado produzidos com matéria-prima brasileira, que cada vez mais se afunda em escândalos de corrupção – e a gente "tem" que ficar feliz que o brasil tá crescendo e todo aquele blábláblá. não acho que brincar de occuppy wall street versão tupiniquim (occupy esplanada? occupy paulista? occupy av. brasil?) seja desnecessário. pelo contrário, acho que é um passo necessário – principalmente se não for uma coisa manipulada como com os caras-pintadas. mas sei que não se pode parar por aí.

dando um salto por analogia, é como disse tom service em seu excelente blog sobre música clássica no guardian (http://www.guardian.co.uk/music/tomserviceblog/2011/nov/03/paul-hamlyn-awards-speech): estamos fazendo algo, mas estamos na beira do abismo. precisamos fazer mais. precisamos exigir mais. precisamos estar mais atentos ao que acontece. precisamos compartilhar essas informações. precisamos parar de gastar 5 minutos fazendo um photoshop básico pra divulgar na nossa rede social predileta falando mal de x ou de y, e usa-los para entrar em contato com nossos representantes e fazê-los saber que estamos prestando atenção.

precisamos parar de elogiar v de vingança e começar a fazer por onde. a "revolução", como bem se sabe, não sabe andar sozinha.

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PS: pra quem ficou curioso, a tal entrevista está aqui: revistaepoca.globo.com/Sociedade/noticia/2011/10/belo-monte-nosso-dinheiro-e-o-bigode-do-sarney.html

PPS: sou só eu quem acha estranho o fato de que, passados quase 1 ano de sua saída da presidência, as opiniões de nosso ex-presidente ainda sejam tão importantes – por vezes parecendo mais importantes que as da atual presidenta?