25.6.06

agradável demais o momento em que vos falo

É uma coisa louca, estar apaixonado a distância. Querer estabelecer contato, "reach out and touch faith", uma necessidade quase imperativa de se fazer ouvir e ser ouvido. Quando se está num estado de espírito levemente melancólico, quando aquela solidão que nos permeia se faz presente e buscamos instintivamente um carinho, quando "tá tudo cinza sem você" e a criatividade gira em falso, sem conseguir encontrar uma válvula de escape – aí é que nos precipitamos, nos jogando de cabeça no vazio-cheio-de-tudo e arriscando todas as fichas.

Tenho me sentido assim já há algum tempo...e isso me enlouquece e, ao mesmo tempo, me motiva a continuar. Não posso ceder um milímetro que seja enquanto não a reencontrar e alcançar aquilo que tanto tenho buscado. Bem sei que fantasio em excesso e que as coisas não se resolverão num passe de mágica pelo simples fato de estar com ela, como nas comédias românticas B- e filmes Hollywoodianos em geral (tema, aliás, tangenciado em uma de nossas últimas conversas), e que aquilo que me incomoda permanecerá lá, em estado talvez latente, talvez exposto...mas, separando o joio do trigo, sei – ou melhor, sinto – que tal contato se faz mister para que certas peças se encaixem em seu lugar, para o bem ou para o mal. Como Cyrano de Bergerac, "Na sombra protetora da noite, eu me atrevo a ser eu mesmo, sem temer ser ridicularizado por causa do bater selvagem do meu coração! Com receio de alcançar uma estrela, colhi flores...mas esta noite...esta noite, uma estrela brilha".

Aqueles que conhecem o resto do texto, saberão ao que me refiro. Toda perdição é válida, desde que seja com algum propósito, um objetivo. Não importam os percalços, os desencontros. Conquanto a vontade permaneça intacta e o poema queira ser escrito, a música soará, de vozes melodiosas ainda desencontradas.

12.6.06

quadriculado

Esse ano é um ano de escolhas. Há duas óbvias:

• Escolher um time na copa do mundo – porque torcer pro Brasil esse ano é furada, já que desde '62 há intercalação de vencedores sul-americanos e europeus. Além disso não tem graça torcer pro Brasil, que é sempre favorito mesmo quando não goleia times infinitamente mais fracos, quando faz um imbroglio qualquer na final (vide '98), quando a comissão técnica e jogadores não são os melhores e outras pataquadas afins;

• Escolher em quem (se em alguém) votar para presidente – afinal, eleições presidenciais são sempre uma escolha entre os despiores, principalmente depois que o último dos inocentes foi eleito e se mostrou pouco diferente dos outros. Embora o atual governo esteja fazendo coisas dignas de nota, como desmantelar a base de ACM na Bahia levando grupos médicos cubanos para o interior do estado-capitania e arrebanhando apoio de prefeitos atrelados à base de Toninho Malvadeza (coisa que no sul maravilha não é comentado devido a falta de apoio às indústrias e conglomerados daqui), isso não torna os atuais inocentes reelegíveis e consequentemente a falta de opções viáveis é alarmante;

Além destas, há ainda aquelas que são diárias e não estão atreladas aos anos de exceção como este. É necessário escolher se se mantém a postura hipócrita com relação à corrupção nacional (da qual só reclamamos quando esta não nos beneficia) ou se cobramos quem deve ser cobrado e paramos de tolerar o "jeitinho brasileiro"; se aceitamos a mediocrização da mídia passivamente, acreditando no discurso de "imparcialidade", ou se pressionamos os grandes veículos a tomarem uma posição sobre os acontecimentos, apontando os pontos de vista de todos os lados da questão. (Há uma grande diferença entre tais posições: uma mostra apenas o que é conveniente ao veículo e não coloca a opinião do mesmo; outra, mostra todos os lados - consequentemente informando o leitor/espectador/ouvinte - e coloca a opinião do veículo, defendendo este ou aquele interesse e apontando suas razões para tal); se continuamos a fazer promessas de ano novo que não vamos cumprir, ou se nos colocamos objetivos que desejamos alcançar; se conseguimos dialogar com os outros, ouvindo (ainda que discordando) de seus pontos de vista, ou se mantemos o discurso de liberdade de expressão e tolerância cultural e continuamos "cegos" aos confrontos inter-tribais; se reclamamos do fato dos bancos não abrirem em dia de jogo da seleção ou se continuamos acreditando que a economia vai muito bem, obrigado.

É claro que há muito mais escolhas que precisam ser feitas e que elas não são apenas uma questão de cara-ou-coroa, preto no branco. Você já fez a sua?

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PS: àqueles a quem cabe, feliz dia dos namorados.