18.3.13

síndrome de cyrano

Tem dias em que tudo dá certo.

O trabalho rende, novos clientes te procuram, o papo com os amigos flui bem e a cerveja está na temperatura certa. Você (re)encontra pessoas e, quem sabe, pode até se dar conta que está perdidamente apaixonado por alguém ou algo. Dias em que o mundo ao seu redor te conta segredos não tão secretos (quando se sabe parar para admirar as flores) e tudo parece conter a chave para aqueles mistérios que só as crianças conhecem.

Ainda assim, à esses dias se contrapõem outros, em que quase nada dá errado - mas aquela uma coisa que faltou parece tornar-se indispensável à manutenção da vida, e vira um buraco negro para toda cor em volta.

...

No meu mundo, os dias me contam histórias, transcorrem caudalosamente em som e fúria, HD e 8.1 surround sound.

São as noites, a entrada na madrugada, que quase me fazem temer pela sanidade que já questiono se ainda é minha.

Não pelo vazio na casa, ou na cama.

Pelo vazio na alma.

14.1.13

the show must go on

Parece que, por vezes, a faca de dois gumes é cega. O corte, na expectativa dolorosamente agudo, se torna algo opaco e mudo. Tudo dói de forma difusa, como encarar o céu gris-nublado por detrás do qual se perde o sol. Há que se apertar os olhos na tentativa de dar mais definição (ou resolução).

Agora, o nublado perpétuo, cinza-chumbo paulistano se abre em torrencial chuva. Perdido entre as reverberações dessa militude de gotas, ouço ecos da vida lá fora que me fazem pensar no velho adágio que afirma: "olhar para as estrelas é olhar para o passado". Consonantemente, ouvir os ecos e reverberações é ouvir o que se foi... e, se se for atento, medir a distância de tempo que separa tal oitava de sentimentos e determinar quantos harmônicos reverbera(ra)m. Creio que, como na acústica, quanto maior a distância percorrida pelas oitavas, maior a riqueza entre elas.

Tal noção me conforta, uma quasi-anestesia; permite que o cego serrar termine sua grave tarefa e deixe o sol entrar, quando as cortinas dos dilúvios sasonais se abrirem tal qual cortinas teatrais para o início do espetáculo.