14.1.13

the show must go on

Parece que, por vezes, a faca de dois gumes é cega. O corte, na expectativa dolorosamente agudo, se torna algo opaco e mudo. Tudo dói de forma difusa, como encarar o céu gris-nublado por detrás do qual se perde o sol. Há que se apertar os olhos na tentativa de dar mais definição (ou resolução).

Agora, o nublado perpétuo, cinza-chumbo paulistano se abre em torrencial chuva. Perdido entre as reverberações dessa militude de gotas, ouço ecos da vida lá fora que me fazem pensar no velho adágio que afirma: "olhar para as estrelas é olhar para o passado". Consonantemente, ouvir os ecos e reverberações é ouvir o que se foi... e, se se for atento, medir a distância de tempo que separa tal oitava de sentimentos e determinar quantos harmônicos reverbera(ra)m. Creio que, como na acústica, quanto maior a distância percorrida pelas oitavas, maior a riqueza entre elas.

Tal noção me conforta, uma quasi-anestesia; permite que o cego serrar termine sua grave tarefa e deixe o sol entrar, quando as cortinas dos dilúvios sasonais se abrirem tal qual cortinas teatrais para o início do espetáculo.

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