16.4.07

if I seem superhuman I have been misunderstood

Fazem 9 minutos que um novo dia começou e eu estou comendo miojo.

A ausência é capaz de causar sérias mudanças em nós mesmos. Você nunca sente tanto falta de cigarro quanto quando, no meio da noite, se dá conta que os seus acabaram e ninguém na mesa têm (Porque eu não comprei outro maço?); nunca sente falta do seu melhor amigo até vê-lo embarcando num avião para viver muitos meses longe de você (Porque eu não fui visitá-lo mais vezes?); nunca sente falta do amor até conhecê-lo de verdade (Onde você esteve todo esse tempo?).

Somos seres egoístas, ninguém disputa esse fato. Só sentimos falta quando já não há nada a ser feito e aí nos culpamos (ou aos outros, dependendo da moral de cada um) pelo que poderia ter sido. Nos arrastamos na mesmice por medo do diferente e depois, quando o diferente nos rejeita (por qualquer razão) nos sentimos feridos e humilhados, invariavelmente julgando injusto o acontecido.

Temos uma natureza macunaímica. Quando digo isso, não me refiro ao tão propagado (e infundado) mito da preguiça brasileira. Ou melhor, não como tradicionalmente se refere à tal mito. O brasileiro não é preguiçoso nem vagabundo, exceto quando se trata de cuidar da sua própria vida. Quantas vezes não vemos pessoas serem tradadas de maneira mais desrespeitosa que um animal e não fazemos nada? Ora, na maioria das vezes não fazemos nada nem quando nós mesmos somos tratados assim! E, no entanto, assim que termina o dia e saímos da casa-grande, nos encontramos na senzala e comentamos um com os outros: "nós não devíamos viver assim, isso é indigno". Mesmo assim, quando raia o novo dia, lá estamos nós no batente sorrindo p'ro sinhôzinho. E não bastasse tal atitude com relação ao nosso trabalho, à nossa vida pública, à nossa cidadania, agimos assim com relação aos nossos afetos.

A pessoa a quem eu amo vive longe de mim. Diversos fatores tornam, no atual momento, impossível uma vida a dois como normalmente deveria ser. E tudo o que vejo à minha volta faz a luz no fim do túnel cada vez mais parecer uma miragem.

18 minutos depois, ainda não digeri meu miojo.

4 comentários:

  1. Vivimos lejos, pero no uno del otro, estamos más juntos que mucha gente que está cerca, tan juntos que a ratos no sé dónde empiezas tú y termino yo....

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  2. Tá doido o texto (doido de dor, não de doido. De qquer jeito é uma palavra bem interessante...), mas ótimo. Por outro lado talvez o fim do túnel esteja mais próximo que se possa imaginar. No escuro deixamos de enxergar as coisas que nos cercam - que estão à frente e ao lado - e no caos a tendência é a massa de informação tomar a proporção de uma bola de neve em avalanche. Porém, depois que tudo está coberto de neve, você pega sua admirável pá, tira o gelo de cima e pronto, lá está o velho mundo, são e salvo, esperando pra você fazer outro miojo. A diferença no caso é que o prato será pra dois e o miojo cairá como uma lasanha da vó. Ou, perdão, como uma bela empanada chilena (será que vou apanhar por isso? :D).
    Abcos aos dois!

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  3. Eu não acho recomendável comer miojo após as 22hrs.
    Sempre soube reconhecer este lado humano de dar a atenção somente quando ja perdemos. Deve ser assim com todo mundo. Só o grau martírio e os questionamentos que devem variar um pouco mais. O teu é forte. Eu creio em uma luz no fim do tunel, e não é um positivismo exagerado da minha parte, eu só creio e de vez em quando enxergo a minha. Eu poderia dizer que é uma questão de perspectiva.

    Um beijo,
    e sorte (nunca sei se devo desejar boa sorte).

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  4. Ah, por sinal, eu gosto muito de um livro chamado "Bom dia, angústia", escrito por um filosofo (filosofos são legais porque publicam mil livros apenas por terem este título de "filosofos") que aborda muitos assuntos da condição humana sem tornar-se enfadonho. Eu considero este livro uma excelente explanação sobre o ser humano em sua essência. E como ler um livro novo nunca é demais, recomendo.

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