20.3.07
Retrato do artista enquanto jovem
Como artista, busco expressar-me da maneira mais particular que me é possível, buscando transmitir a soma de conhecimentos, vivências e experiências, que dão à minha obra um caráter pessoal, sem filiar-se a escolas ou ideologias. A criação não pode ser feita sob limitações intelectuais (excluindo-se como tal àquelas auto-impostas pelo artista no fazer de uma obra) e isso faz com que eu esteja sempre buscando conhecer e dominar mais ferramentas da minha área (estilos composicionais, grupos e formações, formas musicais, técnicas composicionais etc.), bem como o maior volume possível de informação meta-musical.
No entanto, me pergunto: qual o papel da arte atualmente? Ainda existe “arte”? Conseqüentemente, existe isso que chamamos “artistas”? A negação de certas referências culturais estabelecidas nos séculos anteriores ao XX produziu um vazio cultural em que qualquer coisa que produza som é chamado de música. Noto a falta de afirmação da arte hoje, que se contenta em ser algo “pós” alguma coisa (pós-moderno, pós-guerra-fria... póstuma?) como a sociedade em geral. Abrimos mão (temporariamente, espero) de buscar caminhos alternativos, nos contentando com o entretenimento. Assim, entendo que os artistas (sim, eles ainda existem!) são aqueles que buscam maneiras de afirmar-se e criam novos caminhos, enquanto os “entertainers” são aqueles que cristalizam, por assim dizer, um dado em nossa cultura.
Particularmente, me fascinam o universo da paisagem sonora reconstruída com instrumentos musicais (diferente daquela feita com eletrônica, que dá, a meu ver, menos espaço à imaginação do ouvinte justamente por apresentar o som real) - inclusive suas aplicações em trilhas sonoras para teatro e cinema -; e os processos musicais do teatro tradicional japonês (Nôh e Kabuki), cujas “trilhas sonoras” sempre se assemelharam mais a paisagens sonoras. Busco uma maneira de misturar as tradições ocidental e oriental de música descritiva, buscando um meio termo entre o poema sinfônico e a música “pontual-descritiva”. Acho importante assumir meu papel como homo sapiens sapiens, bem como homo sapiens sentio, saber a direção para a qual caminho, ainda que, felizmente, não saiba o que encontrarei no caminho.
13.3.07
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