13.4.08

espelho

Havia já algum tempo que ele estava ali, parado, defrontando-se no abismo que se abria adiante. A paisagem – para trás variada – parecia monótona do outro lado da garganta. A vontade de cruzar era grande, mas a distância era demasiada e não havia maneira de atravessar aquela imensidão negrejante, noturna, chopiniana.

Então, piano súbito, todo o sentimento de uma vida soou, pungente como a cavalgada das valquírias – e, no entanto, fugidio como a tarde de um fauno –, manifesto em todo corpo, se misturava, extendia, expandia pelos quatro horizontes. A garganta se moveu, abrindo e fechando como que pela primeira vez, o esforço descomunal fazendo a terra tremer como uma amante.

E da garganta sopraram lágrimas da chuva, num suspiro.

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Para EIB, pela sua força.

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